A avó do punk
estava calada musicalmente, mas mesmo no seu silêncio ela nos inspirava,
afinal, Patti Smith é uma das poucas pessoas que decidem encarar grandes
tormentas para seguir um sonho. Atravessando toda a contracultura de Nova York
nos anos 60/70, cultivou a rebeldia em tempos incertos. Acabou se tornando inspiração pra muita gente.
O tempo passou,
o movimento punk perdeu um pouco da energia inicial e muitos astros daquele
período se tornaram obsoletos – mas Patti provou sempre ter algo a dizer e algum modo
de superar a si mesma. Exemplos? O livro Só Garotos.
‘‘Estou
no modo Mike Hammer, fumando Kools e lendo romances policiais baratos no
saguão, enquanto espero William Burroughs.’’
Só
Garotos é um retrato sentimental da vida da cantora com o artista plástico
Robert Mapplethorpe e um verdadeiro conto de fadas moderno. Vale apena ler pela
incrível amizade entre Patti e Robert, pelos personagens secundários repletos
de carisma (de uma fotógrafa reclusa em seu quarto totalmente branco às
travestis habitantes da Factory de Andy Warhol) e pelas grandes mentes
esbarradas pelo casal, como Salvador Dalí e Janis Joplin. Também é impactante as
discrições intimistas das viagens da cantora por Paris e as noites passadas
pelo casal em bares que foram verdadeiras incubadoras de uma nova geração.
Basicamente é um livro confortante para uma época de tantos bytes, pixels e frieza tecnológica.P.S. Peço desculpas aos gênios da literatura por esse ser meu livro predileto. Talvez seja pelo sentimento de identificação sentido em todo o livro, seja com a preferência de Patti pelo cinema francês ou a ideia de moda como arte em movimento sugerida por Mapplethorpe. Também pode ser pelo momento em que Patti canta Édith Piaf para Robert dormir ou quando é flertada por Allen Ginsberg devido ao seu visual andrógeno.